SÉRIE: EDUCAÇÃO EM YOGA on-line
por
Shri. Prashant Iyengar
Terceira sessão, gravada em 18 de abril de 2020
Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute
Transcrição livre, traduzida por Bruna Paez, revisada por Katia Dacosta, ABIY.
O problema básico que vamos enfrentar é que fomos doutrinados que o yoga é um assunto prático, e ficamos assoberbados achando que é uma atividade e algo que precisa ser feito. Quero introduzir a perspectiva yóguica de que há muito de educação em yoga. Precisamos conhecer algo, antes de fazermos algo. Há certas esferas de conhecimento onde você faz e aprende; mas há, também, algo como aprender e, depois, fazer. Nessa educação, é importante que tentemos conhecer algo sobre yoga e, depois, ver de que maneira vamos fazer yoga.
Postura e asana
Tenho enfatizado sobre a distinção entre postura e asana. As posturas começam com a biomecânica e culminam com a biomecânica; mas onde o yoga vem nas posturas? As posturas são necessárias. Devemos aprendê-las, trabalhá-las… Devem ser posturas apropriadas, boas, e através dessas posturas, precisamos aprender yoga.
Vamos ilustrar: você está instalado em virasana. Se é uma postura, de que maneira vamos manter os pés girando para fora apropriadamente? Girar os músculos da panturrilha de dentro para fora? Girar o músculo da coxa de fora para dentro? De que maneira sentar apropriadamente, ereto, com o sacro côncavo? Abrir o peito, elevar a coluna, levar os ombros para trás? Estamos falando de biomecânica, em relação às diferentes partes do corpo. Talvez agora venham as posições dos braços, das costas: namaskar nas costas, braços de parvatasana sobre a cabeça, braços de gomukhasana nas costas, braços de garudasana na frente… Você pode fazer todas essas posturas e variações.
Observe as partes musculoesqueléticas do corpo, suas ações: o que deve ir para baixo, o que deve ir para fora, para dentro, o que deve ser estendido, o que deve ser firme, o que deve ser macio… De que maneira dar proeminência à pelve e ao diafragma? Como erguer o peito, rolar os ombros, entrar com as escápulas, com as dorsais? Tudo isso é biomecânica. Você começa na biomecânica e você também termina com biomecânica.
A postura é como a ignição de um veículo. Depois que você o liga, você não mexe na ignição novamente. De modo similar, a postura é como a ignição que, depois, procederá à condição de asana. Se é uma condição de asana, vamos tentar compreender as implicações e as nuances: consciência do corpo, mente e respiração, conforme abordado na primeira sessão.
Agora, no seu virasana, há paradigmas: Você pode fazer virasana, que pode se chamar “quadril-nádegas-sacrilíaco virasana” – esse é o portal a partir de onde você irá tentar negociar o seu virasana. Verifique como você o faz, onde deve ser o ponto de partida na região sacrilíaca: sacro, cóccix, quadris, nádegas, ânus, região pélvica anterior, abaixo do umbigo, do assoalho pélvico para o umbigo, abdômen… Essa é a maneira de proceder a partir desse paradigma. O mesmo virasana pode ser feito aferido pelas escápulas. Descubra como você modifica as dinâmicas, como você redefine as dinâmicas entre a centralidade ísquios-sacro para a centralidade escápulas? E, depois, a partir da centralidade escápulas para a centralidade peito, diafragma, abdômen…
Há várias negociações possíveis, tal como dirigir um carro. Você não apenas liga o carro, você dirige o carro. Ao dirigir os asana-s, há diferentes modos de conduzi-los – baseados nos paradigmas em asana-s, yogasana-s . Isso não vêm nas posturas. Postura é uma abordagem global do corpo inteiro – físico, musculoesquelético.
Agora, em virasana, você pode fazê-lo como um exercício, um exercício musculoesquelético. Descubra como você pode exercitar o corpo musculoesquelético por meio de virasana, que pode ser em paschimo namaskarasana, gomukhasana, braços de garudasana n a frente, braços de parvatasana sobre a cabeça... Essas são algumas das possibilidades em que você ativa o corpo diferentemente, e assim é como isso se torna cultura física.
Em yogasana-s, você deve identificar como você está, fazendo não apenas o movimento musculoesquelético, mas como você pode usar uma respiração profunda, uma inalação profunda, uma exalação profunda, uma exalação volumosa, uma inalação volumosa, aguda, densa, e assim por diante… Algumas vezes, se pode fazer a retenção; uddiyana kriya e uddiyana mudra podem vir… e assim, você poderá fazer negociações mais profundas ao aplicar a respiração no corpo musculoesquelético.
Você também pode aplicar a sua mente no seu corpo musculoesquelético, o que irá contribuir de maneira significativa através da vontade, da volição, da determinação… Se você está exercitando o corpo, você necessita de uma cultura mental específica para exercitar o corpo musculoesquelético. Use esse aspecto da mente para isso. Descubra como a respiração vai contribuir, a mente vai contribuir. Em uma condição associada, de que maneira elas irão contribuir? Se você faz dessa maneira, será novamente uma cultura física: você está usando corpo, mente e respiração para o benefício do corpo; você está usando corpo, mente e respiração combinados para o corpo físico, musculoesquelético. Isso será novamente uma cultura física.
Em yoga, precisamos ir além da cultura física. Se for yogasana, é preciso ir além, não ficar preso apenas à estrutura física ou à cultura física.
Em yogasana, descubra como você pode obter perspectivas diferentes. Você está fazendo virasana com os braços de parvatasana, os dedos entrelaçados e os braços acima da cabeça. Você está treinando os braços, fortalecendo os cotovelos, estendendo as axilas etc. Você está acostumado a fazer isso para o corpo, para a estrutura corpórea, para o corpo musculoesquelético, para a matéria do corpo. Agora, use essa posição e comece a abordar a respiração, tornando-a uma beneficiária em vez de uma benfeitora, como fez na fase anterior.
Descubra como você pode usar a respiração voluntária, a respiração mais profunda, e gerar benefícios à respiração pelo peito de virasana, pelas costas de virasana, pela coluna de virasana, pelo abdômen, pelve e quadris de virasana, nádegas, ilíaco, períneo… A respiração deve ser uma beneficiária significante. Essa é a abordagem da respiração.
Similarmente, você pode fazer para a sua mente, objetifique a mente, compreenda o estado da mente. Por exemplo, quando fazemos uma pose fotogênica, estamos conscientes da câmera, conscientes da lente. Sabemos o que uma lente capta, o que a câmera capta e, por conseguinte, nós podemos justificar isso. Posicione-se para justificar. A isso chamamos “fotogenicidade”.
Imagine que há um instrumento monitorando a sua respiração: se você está ativando a respiração, se você está gerando benefícios para a respiração, se a respiração é uma beneficiária, quando você exala, quando você inala… De que maneira a respiração é beneficiada por esse parvatasana em virasana? Em outra posição, isso será diferente, o benefício para a respiração será diferente.
Não apenas use a respiração, faça também aplicações na respiração – isso está implícito em um asana.
Do mesmo modo, os aspectos da mente: você pode usar o cérebro e ver até que ponto ele se beneficia pelo yogasana - isso não acontece na postura. Na postura, isso não é considerado. Em asana, você pode observar os benefícios para o cérebro, como um encefalograma escaneando o que acontece no cérebro, monitorando-o, e monitorando de que maneira ele está obtendo alguma vantagem. Essas são as abordagens do corpo, da mente e da respiração.
Hoje vou abordar uma nova dimensão. Você está familiarizado com a condição na qual você diz: “Eu estou fazendo virasana“. Qual é a sintaxe em “eu estou fazendo virasana”? Tente compreender o substantivo, o verbo e o predicado nessa sintaxe. Agora, se eu sugerir que você vá a uma condição em que a sintaxe seja “eu sou um fazedor de virasana”, que mudanças você terá que efetivar entre “estou fazendo virasana“ e “sou um fazedor de virasana”? Você é realmente um fazedor em algum momento? Em algum momento, você está fazendo virasana?
“Eu estou fazendo virasana” tem dois sentidos que negligenciamos:
- Um soa como se você fosse o fazedor, quem executa: você está exercendo um papel de executor e você
está executando virasana, então, você se torna um fazedor. Há nuances no significado da afirmação “eu estou fazendo” da natureza de “eu sou o fazedor”: a sua vontade, a sua entidade subjetiva, sua volição, intenção, suas percepções, sensações… então, você é um fazedor de virasana. - Outro significado da sintaxe é de que você é um instrumento. Ao dizer “eu estou fazendo virasana”, você pode ser um instrumento para realizar virasana, para executá-lo.
Se você está assumindo um papel de instrumento, descubra quais são as dinâmicas. Ao assumir um papel de sujeito, descubra quais são as dinâmicas.
Há uma terceira sintaxe: “Eu estou sendo feito”, “virasana está sendo feito em mim”. Aqui, a entidade subjetiva é esculpida e cultivada. Aprenda a interpretar essas sintaxes e entender suas dinâmicas.
– “Eu sou um fazedor de virasana” – virasana é uma ferramenta, um instrumento;
– “Eu estou fazendo virasana” – virasana é um objeto;
– “Eu sou feito por virasana“ – eu sou o beneficiário.
Compreenda as diferenças nessas sintaxes e tente entender as diferenças que acontecem nas negociações. Isso está implícito em um asana.
Se somos a entidade subjetiva, “o fazedor“, compreenda novamente as tonalidades e nuances aqui. Você pode ser um fazedor quando você se identifica com o corpo; que você é o corpo, a unidade corpórea. Por identificar-se com o corpo, você diz que é o fazedor. De que maneira você procede? Depois, se identifique com a sua respiração. Você é a respiração e a entidade da respiração. Compreenda de que maneira as negociações mudarão. Por último, identifique-se com a sua própria mente. Se eu sou a mente, o que eu considero?
Você têm três diferentes considerações: “Eu sou o corpo” – o que eu vou considerar? “Eu sou a respiração” – o que eu vou considerar? “Eu sou a mente” – o que eu vou considerar? Essas são as nuances do yogasana.
Essas não são as nuances de uma postura. Nas posturas, você se identifica com o corpo. Você diz “eu estou reto” – na verdade, o corpo está reto; “eu estou firme” – na verdade, o corpo está firme. Nas posturas, quando você se identifica com o corpo, compreenda a influência e a gravidade corpórea. Mas ao identificar-se com a respiração, as negociações serão diferentes.
Então, obtenha a sua educação neste momento: de que maneira as negociações mudam? De que maneira as considerações mudam? Como estudantes de yoga, vocês devem ser capazes de se identificar não apenas com o corpo, mas com a respiração e a mente.
Dessa forma, a sintaxe “eu sou fazedor do meu virasana“ é uma antítese do yoga. Você é, supostamente, um beneficiário, a entidade subjetiva que deve ser esculpida. Se você é um fazedor, você está envolvido em uma atividade, enquanto no yoga você, supostamente, deve estar presenciando, observando.
Você é uma testemunha
Em yoga, você deve ser uma testemunha. No outro dia, eu disse: “permita as interações do corpo, mente e respiração, e mantenha-se observando estas interações. Assim, logo você estará no caminho do testemunhar os fenômenos nos asana-s“.
Nos asana- s, essa estrutura é muito importante: você não é um fazedor, você não está fazendo, e tampouco sendo feito. Você é uma testemunha. Se você é um fazedor, se está fazendo ou se é feito, isso é uma cultura materialista. Se você é uma testemunha dos fenômenos do corpo, da mente e da respiração interagindo entre si, então você adquire a “testemunhidade”, e isso estará mais próximo dos aspectos centrais do yoga.
Primeiramente, quero ajudá-lo a superar certos mal-entendidos sobre yoga como asana-s e posturas. Não vemos distinção entre eles; postura é asana e asana é postura. Mas isso não é verdade. Adquira essa educação, e você verá quais são as dinâmicas dos asana-s.
Da mesma maneira, há também um equívoco em relação a yama-s e niyama-s, que abordarei na próxima sessão. Yama-s e niyama-s são considerados práticas morais e éticas. Nos tratados de Patañjali, eles não são práticas nem princípios morais e éticos; são princípios ético-religiosos. A maioria de nós acredita que são princípios morais e éticos, mas não são. O que são yama-s e niyama-s? Por que eles não são práticas, nem princípios morais e éticos? Isso será abordado na próxima sessão. Namaskar!