SÉRIE: Educação em Yoga Online – Sessão 4

SÉRIE: EDUCAÇÃO EM YOGA on-line
por
Shri. Prashant Iyengar
Quarta sessão, gravada em 19 de abril de 2020
Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute
Transcrição livre, traduzida por Bruna Paez, revisada por Katia Dacosta, ABIY.

Namaskar! Estamos na quarta sessão de Educação em Yoga, educação sobre yoga, educação através do yoga.

Na última sessão, eu conclui com o comentário de que iríamos lidar com outro grande equívoco predominante no mundo do yoga, de que os yama-s e niyama-s são princípios morais e éticos, práticas morais e éticas sugeridas por Patañjali.

De princípio, declaro que yama-s e niyama-s não são princípios morais e éticos. Patañjali não está sugerindo normas morais e éticas a serem praticadas. Na verdade, você e eu, qualquer pessoa, pode também estipular princípios morais e éticos a serem praticados em qualquer esfera da vida; por que precisamos de Patañjali?

Devemos saber, portanto, que Patañjali não está tentando sugerir que princípios morais e éticos são o primeiro passo no yoga. Porque, se quisermos ser bons seres humanos, moral e ética devem ser praticadas por cada um de nós. Se não as praticarmos, não seremos nada além do que animais de duas pernas.

Um dos fatores que mantém seres humanos como seres humanos é que a humanidade pratica a moralidade e a ética. E isso deve ser praticado, fazendo ou não yoga. Moralidade e ética devem ser praticadas. Por que Patañjali menciona, então, yama-s e niyama-s? Conhecemos os cinco yama-s e os cinco niyama-s, chamados de restrições e observâncias, são princípios normativos que qualquer um pode sugerir.

Princípios ético-religiosos

O motivo pelo qual afirmo que yama-s e niyama-s não são princípios morais e éticos é pela simples razão de que na convenção dharsanica, na convenção do sistema filosófico indiano, há um conjunto de pilares sobre os quais o expositor deve delinear.

Quando Patãnjali aborda o ashtanga yoga, ele oferece princípios básicos de práticas e sadhana-s, chamados de achara niti dharma pranali. Todo o ashtanga yoga, na verdade, é chamado de dharma niti achara. Embora seja uma interpretação errônea, isso é traduzido por princípios ético-religiosos do yoga. Não somente yama-s e niyama-s, mas mesmo asana, pranayama, pratyahara, dharana, dhyana, samadhi, todos eles compõem o achara dharma niti pranali do sistema de Patãnjali. Todos os ashtanga-s fazem parte de achara dharma niti pranali, pois todos eles são práticas.

Portanto, yama-s e niyama-s não são princípios e práticas morais e éticas. Todos os filósofos normativos sugeriram esses princípios; muitos deles nos informaram enfaticamente, nos impuseram ou algumas vezes decretaram que moralidade e ética devem ser praticadas. Mas nós nos evadimos… Podem nos dizer que devemos praticá-las, mas na vida real, praticamos isso de fato? Podemos realmente colocá-las em prática? Isso é de maior importância para nós? Todos os líderes religiosos do mundo falam sobre moralidade, ética, e que todos devem praticá-las, mas de que forma isso acontece? Não precisamos que Patãnjali nos diga a mesma coisa.

Independentemente de estar ou não fazendo yoga, nas ocupações da vida, na vida prática, ainda assim, você deve praticar moralidade e ética. Isso deve ser, na verdade, a marca do ser humano, o que caracteriza um bom ser humano. Do contrário, você não passa de uma criatura de duas pernas.

O que importa é que os princípios ético-religiosos de Patañjali circunscrevem todo o ashtanga, não apenas yama-s e niyama-s.

O que é um sistema ético-religioso? 

Na convenção indiana, temos filosofia e algo que chamamos de tattvajñana; temos também dharma, que é traduzido como religião.

Em sistemas como o de Patañjali, e mesmo nos sistemas de Kapila, Samkhya; Kanada, Vaisesika; Nyaya de Gautama, ou de Jaimini, Mimansa ou Bhadra e Mimansa, ou em qualquer outra das tantas filosofias do sistema indiano, cada uma delas menciona algo como dharma, achara dharma niti pranali. Novamente repito, dharma é traduzido como religião, mas essa não é uma interpretação adequada.

Tenha em mente que, desde ahimsa yama até samadhi, todos são princípios ético-religiosos do yoga, não somente yama-s. Todos são angas, membros, aspectos integrais. Quer dizer que yama-s e niyama-s devem ser praticados em sociedade, e não enquanto se pratica asana, pranayama, dharana e dhyana? Não se trata de uma faceta social, não é apenas quando você está em uma situação social que moralidade e ética devem ser praticadas. Quando você está isolado e quando vai fazer yoga, há yama-s e niyama-s em todos os outros aspectos também.

Geralmente nos preocupamos com o que é um asana correto, o que é um pranayama correto, o que é um asana adequado, o que é um pranayama adequado; não tentamos entender o que é yama e niyama do asana, o que é yama e niyama do pranayama. O que é yama e niyama? De que maneira isso se manifesta em asana, pranayama, dhyana, japa?

Guruji fez questão de explicar todas essas coisas. Ele poderia explicar yama-s e niyama-s em seu trikonasana; ele poderia explicar ahimsa, satya, brahmacharya, aparigraha em trikonasana; ele poderia explicar saucha, santosha, tapas, svadhyaya, Ishvara pranidhana em seu trikonasana, tadasana. Nós não tínhamos ideia de que yama-s e niyama-s também ocorrem em asana-s, pranayama; e na teoria do yoga, na filosofia do yoga, eles ocorrem até mesmo em samadhi, e se manifestarão de forma diferente.

Então, observe: qual é a sua moralidade quando você está fora, no seu local de trabalho? E qual é a sua moralidade quando você está de volta em casa, com a sua família? Você possui a ética do trabalho. Agora, essa ética acontece apenas no trabalho. Quando você está de volta em casa, você ainda utiliza a mesma ética do local de trabalho? As éticas mudam, em referência ao local, ocupação, onde você está, o que está fazendo. Há um tipo de ética quando você está no seu local de trabalho; outro tipo de ética quando está com sua família; outro, com sua esposa e filhos. É uma arquitetura aberta.

Similarmente, você deve observar que yama-s e niyama-s, moralidade, ética ocorrem de forma diferente em asana-s, pranayama-s, dharana, dhyana, samadhi ou em quaisquer práticas que você esteja executando; elas se manifestarão e virão de modo diferente. Estamos atentos a isso?

Tattvajñana e dharma 

Como acabei de dizer, o sistema indiano tem algo denominado como filosofia. O que é essa filosofia? Filosofia é aquilo que revela a realidade. Um ser humano deve buscar realidades e a filosofia é aquilo que revela a realidade. E o que é dharma? Dharma é aquilo que contribui para a realização. A filosofia revela, tattvajñana irá revelar e dharma irá permitir realizar as realidades.

Todas as práticas de yoga, em qualquer plano – corpo, mente, respiração, sentidos, órgãos, psique, consciência, intelecto, emoção, são para a busca e realização da verdade.

Dharma é o que nos ajuda a realizar as realidades, enquanto a filosofia irá apenas revelar as realidades. É por isso que dharma e tattvajñana são aspectos importantes e as duas considerações principais da estrutura do sistema filosófico indiano. O que é tattvajñana? O que são as realidades? O que são realidades relativas, realidades absolutas, realidade última? Dharma vem para que possamos realizar todas essas realidades internamente – esse é o propósito do dharma. Daí, a tradução “sistema ético-religioso”, que inclui desde ahimsa até asamprajñat samadhi.

Devemos separar todos os ashtanga-s: cinco yama-s, cinco niyama-s, depois asana, pranayama de três tipos (bahya, abhyantara e stambha), pratyahara, dharana-s de vários tipos; dhyana-s de vários tipos, e então, asamprajñata, samprajñata samadhi-s. Todos juntos fazem parte do achara dharma niti pranali. Achara é conduta; niti é ética. E o que é dharma?

Guruji costumava dizer que dharma não é religião, porque a religião é o corpo da fé. Você deve ter fé no que a religião postula. A religião é um locus, qualquer religião no mundo é um locus para a fé. Onde as pessoas depositam sua fé, elas acreditam nesse lugar. Em outras palavras, a religião é sustentada pela humanidade; se ninguém acreditar nessa religião, ela não irá prevalecer. A religião é sustentada pelos seguidores e pelas pessoas que nela investem sua fé. Elas sustentam a religião, logo, as religiões precisam ser sustentadas.

E dharma? O significado etimológico de dharma deriva da raiz dru, que significa sustentar. Dharma é aquilo que nos sustenta, e religião é aquilo que nós sustentamos. A humanidade sustenta a religião e o dharma é o que nos sustenta. De que forma isso acontece?

Você já ouviu muitas vezes de Guruji a definição popular de dharma: “aquele que está caindo, aquele que caiu, aquele que está prestes a cair, aquele que pode cair… Aquilo que sustenta essa pessoa é dharma”. Dharma sustenta a pessoa que está caindo, a pessoa que caiu. Isso é o que dharma é. Portanto, não é apropriado traduzir dharma como religião e religião como dharma.

Dharma não é um culto. Dharma existe para as os objetos inanimados. Existe religião para objetos inanimados? A religião só vem da espécie humana, não vem nem mesmo para subumanos. A religião não vem aos animais, gado, abelhas, insetos, vermes, lobos; não há religião para eles, entretanto, todos eles possuem dharma. Por quê? Porque dharma é um conceito mais amplo. Não vamos confundir religião e dharma, não vamos chamar religião como dharma e dharma como religião. Vamos olhar para o dharma como o que o dharma é.

Guna-dharma e svabhava dharma

Existem diferentes tipos de dharma. Guna-dharma ocorre até mesmo nas matérias inertes. Há dharma nos elementos terra, água, ar, fogo e espaço. Todos eles possuem dharma. As características inerentes e intrínsecas de cada elemento são o seu guna-dharma.

Toda matéria possui guna-dharma, e jamais o renunciará. A qualidade terral nunca estará separada da terra; a qualidade aquosa nunca estará separada da água; a água tem aquosidade, a terra tem terralidade, o ar tem aeridade, fogo tem fogosidade, espaço tem espacialidade – esses são seus dharma-s, seu guna-dharma. Embora sejam todos inertes, ainda assim, eles possuem seu dharma, na forma de guna-dharma.

No que se refere aos seres vivos, eles possuem svabhava dharma. Svabhava dharma existe até mesmo para as bactérias, insetos, vermes, pássaros, animais, gado, feras… Todos eles possuem svabhava dharma. Se eles renunciarem a seu svabhava dharma, eles não serão sustentados; irão perecer. Se a serpente ou a cobra renunciarem à sua natureza serpentina, elas irão perecer; se o tigre ou o leão renunciarem à sua natureza tigrina ou leonina, eles irão perecer. Se eles se divorciarem de seu dharma, eles deixarão de existir. Portanto, eles devem ter o seu svabhava dharma. O tigre deve ter a sua natureza tigrina, o leão deve ter a sua natureza leonina, a serpente e a cobra devem ter a sua natureza serpentina, o inseto deve ter a sua “inseticidade”. Se o pardal, que é um pássaro muito tímido e pequeno, abandona a sua timidez, ele irá perecer; se ele mantiver a timidez, ele irá se desenvolver. A timidez do pardal sustenta o pardal. Esse é svabhava dharma do pardal.

Então, o dharma existe até mesmo para os animais. Não existe religião para os animais; existe o dharma dos animais. Não existe religião para a matéria inerte, mas existe dharma para a matéria inerte. Por isso, não vamos confundir religião e dharma.

Para a humanidade, o que é dharma? Dharma é a consciência do dever. Se você deseja se tornar um ser humano melhor, você deve estar consciente dos seus deveres. Se não tivermos essa consciência, deixaremos de ser seres humanos. Essa consciência é o dharma. Cada um de nós possui um svabhavacaracterísticas próprias; vivemos por isso, prosperamos por isso. É dessa forma que svabhava dharma vem para o ser humano.

Niyata e vihita dharma

Existem certos deveres morais, sem referência a tipo, espaço e situação, aos quais devemos aderir. Um bom ser humano não irá transigir aí. Os que não forem bons seres humanos irão transigir no tempo, no espaço e na situação. Essa consciência dos próprios deveres morais é niyata dharma. Estes não podem ser relegados em nenhuma situação, em nenhum cenário.

Há também o vihita dharma. Hita significa bom; atender ao que é bom para mim. Algumas vezes, o que é certo para mim é também é relativo. Porque estou aqui, fazer isso é certo para mim; se eu não estivesse aqui, fazer isso poderia não ser certo.

Então, há aspectos relativos. Temos a inteligência para identificar o que é preciso fazer agora; logo, esse é o meu dever neste momento; esse é o meu dever aqui e agora. Esse é o meu dever, porque estou neste espaço-tempo agora, por conseguinte, é um dever moral para mim. Se eu não existisse nesta dimensão de espaço-tempo, esse dever não existiria como um dever para mim.

Qual o meu dever?

À humanidade é conferida a inteligência para apurar qual é o dever correto de cada um neste momento. Isso se chama vihita karma – o que será bom para mim. Vihita karma nos fala sobre o que é bom para mim, onde e quando. Niyata karma, o que é bom, e também o que é certo para mim, em qualquer lugar, a qualquer hora, em qualquer situação. Isso é o que o dharma é.

No ashtanga yoga, você deve saber qual é o seu dever externo. Qual é meu dever absoluto ao estar em qualquer prática de yoga? Pode ser asana, pranayama, meditação, dhyana, como quer que você a chame. Qual é o meu dever devido a condição em que estou? Eu tenho essa condição, portanto, é meu dever fazer isso. Se eu estivesse em outra condição, seria diferente, eu identificaria outro dever. Portanto, devemos ter essa flexibilidade em relação ao dharma: o que é certo e o que é bom? Devemos ser capazes de fazer uma combinação adequada de bom e certo. Estar próximo do bom não será, em última análise, bom; estar próximo do certo, também não será, em última análise, bom.

Da mesma forma que uma roupa é um tecido com tramas horizontais e verticais, o dharma diz que você deve trançar niyata karma e vihita karma. Niyata, deveres morais; vihita, o que é baseado em fatos e condições relativas. Condições absolutas e relativas, ambas devem ser consideradas; e então, há uma trama.

Assim, não se trata apenas de “princípio moral e ético” que você identifica geralmente como yama-s e niyama-s; isso circunscreve todo o ashtanga yoga. Por isso, o ashtanga yoga é chamado de práticas ético-religiosas, princípios ético-religiosos do yoga, que não se limitam apenas aos yama-s e niyama-s. Vamos tentar reformar a nossa ideia sobre yama-s e niyama-s.

Por fim, em relação à moral e à ética, estando ou não em yoga, fazendo ou não yoga, existem razões para não estar na estrutura da moral e da ética? Há algum escopo para que essa estrutura seja quebrada? É bom quebrar essa estrutura da moralidade e da ética? É claro que não. Se algo é evidente, por que Patãnjali diria isso? Por isso, Patãnjali não diz tal coisa.

Nós temos erroneamente concebido yama-s e niyama-s como princípios morais e éticos – o que todos os líderes religiosos e todas as ciências normativas prescreveram, defenderam, mas sabemos muito bem que tudo isso é em vão. Patãnjali não quer fazer isso e não o faz. Portanto, tente reconsiderar o que são yama-s e o que são niyama-s. Se eles têm que estar presentes, não apenas como referência social, mas também pessoal, para si mesmo, quando em asana-s, ou em práticas mais elevadas, quais são os parâmetros de moralidade e ética? É um parâmetro para asana-s, outro para dhyana, meditação.

Logo, é dessa maneira que yama-s e niyama-s devem vir. Não é que moralidade e ética venham primeiro, e então asana, depois pranayama, depois pratyahara, dharana, dhyana, samadhi… Se você constrói desse jeito é uma falta de educação. Por isso, lhe digo: eduque-se em yoga. Vamos nos educar nos preceitos do tratado de Patãnjali. Todo o ashtanga yoga é um princípio ético-religioso, grosseiramente traduzido na linguagem moderna; achara dharma niti pranali, na linguagem clássica. Achara é a sua conduta.

Como é sua conduta? Como é sua conduta quando você está praticando asana-s, pranayama? Quando está praticando dharana, dhyana, samadhi? Devemos fazer a distinção: como você conduz a si mesmo quando está fora, nas ruas, na sociedade, quando volta para casa, e quando está totalmente isolado no próprio quarto? Moralidade e ética não surgem quando você está isolado? 

Existe uma forma de moralidade e ética quando você está recolhido em si mesmo, e outra forma diferente de moral e ética quando você está fora, na sociedade. Vamos tentar reconsiderar e polir a nossa ideia, noção, conceito de yama-s e niyama-s.

Qual a distinção entre karma e dharma? 

Dharma, como eu disse, é conduta. Qual é a sua conduta? É possível dizer que a conduta é totalmente diferente do meu ato? Karma é o ato, e a conduta fornece uma estrutura, uma cultura para o seu karma. Karma é o que você faz; dharma irá te dizer o que você deve fazer. O que você deve fazer, o que é certo, correto, e o que, em última análise, é bom para você, como mencionado em vihita karma.

Quando você está em karma, essa perspectiva deve ser levada em consideração: o que eu faço, se não imediatamente, em última análise, deve ser bom. Isso deve ser considerado quando você está em um karma, em qualquer ato. É por isso que karma-dharma é uma palavra conjunta.

Karma é também constituído pelos seus guna-s intrínsecos, sattva, raja e tama (guna-karma). Karma tem sattva, raja e tama, assim como dharma também possui sattva, raja e tama. O seu dharma irá depender da sua disposição, do calibre da sua consciência. Em um calibre inferior de consciência ou em uma baixa calibragem da consciência, você pensa que algo é certo, que algo é perfeito, mas quando você vai para um nível superior de consciência, você pode então compreender que o que era considerado como certo não era realmente certo.

Karma-dharma são, de novo, a trama. Dharma é pervasivo dentro de nós porque ele nos sustenta; o karma é também algo incessante, você está o tempo todo em karma. Se olharmos para o preceito que aparece no Bhagavad Gita, nem mesmo um momento poderia passar em a-karma, em não fazer, não agir. Algum tipo de ato estará acontecendo, mesmo se você estiver adormecido, algum ato está acontecendo… Mesmo não sendo um ato seu, algo em você está ativo, o seu coração está funcionando, os pulmões estão funcionando, o sistema autônomo está funcionando, suas partes estão funcionando… Você não é responsável por elas?

Portanto, mesmo adormecido, você está em karma: o sistema autônomo está funcionando, a digestão está funcionando, o metabolismo está funcionando; eles são todos seus. Você não pode dizer “não vou tomar responsabilidade pelos meus, vou ser responsável somente por mim”. Da mesma forma que os pais são responsáveis pelos seus filhos, nós somos responsáveis pelos nossos – nosso corpo, nossa mente, nosso sistema autônomo, nosso sistema involuntário.

O karma não te abandona nem mesmo no instante da morte. Eu geralmente digo que o momento mais ocupado na vida de alguém é a última respiração, porque é neste momento que o saldo e o balanço geral dos seus karmas será traçado, e você decidirá para onde ir, baseado nos karmas dessa vida. Isso irá imediatamente dar passagem para a sua transmigração. A nossa passagem começa imediatamente no momento da morte. Estamos ocupados até mesmo nessa hora, com as migrações astrológicas, transmigrações. Assim como passamos pela imigração em uma viagem internacional, aqui passamos pela transmigração: estaremos ocupados nisso, em qual veículo ir, para onde ir… então, o bilhete deve ser mostrado na hora da morte, o visto será dado nesse instante, o passaporte deve ser mostrado nesse momento e prosseguiremos imediatamente para os movimentos astrológicos.

Mesmo aí, a atividade não pára. Em estado comatoso, a atividade não pára, estamos inconscientes, mas ainda assim estamos vivendo. Se estamos vivendo, o sistema autônomo está funcionando, a respiração está acontecendo, alguma função está acontecendo. O karma não nos abandona, nem mesmo por um momento. Karma estará acontecendo constantemente.

Como podemos cumprir o karma? A menos que tenhamos sustento, não poderemos cumprir o karma. Nós devemos ter o sustento, nós devemos estar vivos; se não estivermos vivos, como iremos executar nosso karma? O dharma nos dá o sustento e, além do seu sustento, o karma está acontecendo. Assim, dharma-karma estão novamente bem relacionados.

Se estamos conscientes do dharma, do que é certo e, em última análise, bom para mim; se essa consideração está presente, nosso karma será reformulado. Mesquinharias como o egoísmo não se infiltrarão, não irão prejudicar o karma. Caso contrário, se existirem motivos materiais, egoístas, autocentrados, isso prejudicará a nossa cultura de karma. Dharma não permitirá que isso aconteça. Por isso, karma-dharma são mutuamente relacionados.

É como uma tecelagem, com tramas horizontais e verticais, tecendo dharma-karma constantemente. Se a trama não for apropriada, o tecido não será resistente. Se o entrelaçado dos dois não for adequado, nossa vida não será adequada, resistente. A trama precisa ser apropriada, por isso dharma e karma, novamente, devem ser considerados de maneira conjunta, composta, porque achara é dharma, achara prabhu dharmah. Achara é a sua conduta, conduta significa o que você faz. Por conseguinte, eles estão muito inter-relacionados.

Espero que isso seja suficiente. Muito obrigado!

Gostaria de ver a próxima sessão?

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