SÉRIE: Educação em Yoga Online – Sessão 7

SÉRIE: EDUCAÇÃO EM YOGA on-line
por
Shri. Prashant Iyengar
Sétima sessão, gravada em 29 de abril de 2020
Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute
Transcrição livre, traduzida por Bruna Paez, revisada por Katia Dacosta, ABIY.

Namaskar! Nas últimas sessões, lidamos com yama-s e niyama-s, com o sistema ético-religioso de yama-s e niyama-s e de todo o ashtanga yoga, e um pouco sobre o conceito da meditação dinâmica do yoga de Guruji. Vamos retomar o assunto a partir daí.

Yama-s, niyama-s: aspectos de integração interior

Venho enfaticamente afirmando que yama-s e niyama-s não são princípios ético-morais. Deixe-me colocar mais um ponto ou argumento que corrobora essa posição.

Veja: a moralidade e a ética ocorrem no plano da mente social. No yoga, você está, supostamente, voltado para dentro si mesmo. Logo, não há uma questão de comportamento. Você não se comporta consigo mesmo; não há como se comportar consigo mesmo. Existe uma maneira de comportar-se com as outras pessoas na sociedade. Teremos comportamentos diferentes com pessoas diferentes, ou talvez tenhamos apenas um comportamento para diferentes pessoas, mas aqui [no yoga], trata-se de sermos eternos subjetivistas: trabalhando em si mesmo, por si mesmo, consigo mesmo, dentro de si mesmo.

A ideia que temos de moralidade e ética proveniente das ciências normativas não se aplica aqui. É um âmbito totalmente diferente. Existe um tipo único de moral e ética quando se trata de trabalhar consigo mesmo, dentro de si mesmo e é isso que temos que entender. Portanto, estes não são princípios ético-morais, porque tais princípios possuem uma referência social.

No entanto, dentro de nós mesmos, a maioria de vocês já experimentou que, ao fazer asana-s, estão mais envolvidos e mais integrados do que quando estão em pranayama, ou, em alguns casos, até mesmo em Savasana. Você parece estar em Savasana, mas, na realidade, está é inquieto.

Não conseguimos ter o mesmo envolvimento em pranayama, ou japa, ou dhyana, que temos em asana-s. Estamos mais bem integrados enquanto fazemos asana-s e menos integrados enquanto fazemos pranayama, japa ou dhyana.

Nesses casos, em que estamos menos integrados ou envolvidos e em que tendemos a nos afastar dessas práticas sutis, fica evidente a existência de uma deficiência no tecido moral e ético. Temos uma propensão mais forte para fazer asana-s, como posturas, mas essa moral e ética não está tão fortalecida internamente no que se refere às nossas integrações. Estamos menos integrados.

Muitas vezes, estamos apenas aparentando fazer, ou estamos nos forçando a fazer [essas práticas sutis]. Isso significa que nos falta esse tecido de integração nos aspectos mais elevados do yoga. Portanto, é necessário desenvolver a moralidade e a ética para fazer pranayama, ou japa, dhyana, meditação etc. de uma maneira mais integrada, tal como fazemos quando estamos em asana-s.

Desse modo, a noção de moralidade e ética ou, mais precisamente, de niti dharma, é totalmente diferente quando se está trabalhando em si mesmo, dentro de si mesmo, por si mesmo. Busque compreender que esses não são princípios ético-morais porque estamos trabalhando com nós mesmos e, assim sendo, não é correto chamá-los dessa maneira.

Quando nossos samskaras evoluírem, talvez então, nos tornaremos mais envolvidos e mais integrados mesmo fazendo pranayama ou quando em meditação, ou em japa, ou em dhyana. Quando nos falta essa integração, significa que não temos a moralidade suficientemente desenvolvida para as práticas mais sutis. Mesmo que você os considere princípios ético-morais, estes são totalmente diferentes daquilo que entendemos como moralidade e ética proveniente das ciências normativas.

O que estou pretendendo transmitir é que precisamos de integrações para praticar. Às vezes, estamos integrados. Algumas pessoas estão integradas fazendo extensões para trás, mas não estão integradas fazendo extensões para frente ou vice-versa. Para algumas posturas, elas têm uma maior propensão e, portanto, melhores integrações, enquanto que, para outros asana-s, não possuem a mesma propensão. Logo, [isso revela que] há algum tipo de disparidade em nossa estrutura de envolvimento, estrutura de integrações. Sempre que houver uma rarefação dessa estrutura, significa que nos falta sattva, que nos falta moralidade e ética para praticar.

Esse foi mais um ponto que eu pretendia apresentar para que você compreenda que yama e niyama não são princípios ético-morais.

Ahimsa-himsa em asana-s

Tente entender como isso se daria. O que você consideraria como himsa em asana e o que você consideraria como ahimsa em asana? Isso é diferente em pranayama. O que se considera himsa em pranayama seria diferente do que você considera himsa em asana; ou ahimsa em pranayama e ahimsa em asana-s.

Satya, a verdade: onde não há integração, não pode haver verdade. Onde estamos mais bem integrados, há uma chance maior dessa integração ser mais verdadeira. Por outro lado, se você não for muito propenso para certas práticas ou para certos níveis de práticas, isso significa não estar aderindo a satya, à verdade; não está sendo verdadeiro.

Logo, busque refletir sobre o que é verdade intrinsecamente; o que é verdade nos asana-s; verdade em pranayama; verdade em qualquer outra prática de yoga.

Da mesma forma, brahmacharya: estar numa condição devassa da mente é abrahmacharya. Se você está comprometendo a castidade, a devoção e a virtude, isso é abrahmacharya. Somos virtuosos em todos os asana-s que fazemos ou só em alguns?

Em alguns asana-s, temos uma mente mais pura que em outros. Essa pureza e virtude da mente e da consciência diferem até mesmo entre os asana-s. Em alguns asana-s, seremos mais virtuosos que em outros. Estaremos mais puros em alguns asana-s, nem tão puros em outros. Portanto, a pureza será desigual entre asana-s; entre asana e pranayama; entre asana, pranayama e dhyana; entre asana, pranayama, dhyana e japa.

Intrinsecamente, moral e ética é um conceito totalmente distinto. Assim, gostaria que você refletisse sobre esse aspecto também.

Similarmente em dharma: você será mais dármico, ou seja, terá uma religiosidade mais elevada, em certos aspectos da prática e um tipo de religiosidade inferior em outras práticas. Precisamos identificar onde há essa falta de religiosidade e fazer algum tipo de gerenciamento aí. Esse é outro ponto que gostaria de apresentar a vocês.

O processo da atividade e o processo do pensamento nos asana-s

Discutimos [na quinta sessão] sobre a meditação dinâmica no yoga de Guruji.

Quando se trata de meditação dinâmica, geralmente relacionamos esse aspecto dinâmico ao nosso corpo nos asana-s. Sabemos, no entanto, que algumas pessoas são dinâmicas na mente.

No yoga, quando se trata de meditação dinâmica, não significa necessariamente que seu corpo deve estar em modo dinâmico e então haverá meditação. Trata-se do processo do pensamento em modo dinâmico. Trata-se do funcionamento da mente em modo dinâmico. Como eu disse: o pensamento, o pensador e o pensar.

Nos asana-s, temos que identificar que existe um pensamento. Estamos fazendo asana sem pensar? Deveríamos estar fazendo asana sem pensar? Nós não queremos fazer asana-s sem pensar. Tem que haver um pensamento e o pensamento tem que ser compatível, adequado, nobre… Então, considere o pensamento, considere o pensador e considere o pensar em um asana. Compreenda essa tríade.

Na estruturação básica dos asana-s, existem dois processos, que frequentemente abordo em minhas aulas: o processo da atividade e o processo do pensamento.

Presumimos que o yoga é algo muito, muito ativo e nos preocupamos apenas com o processo da atividade e, então, todas as instruções se referem a essa atividade como devemos estar ativos no corpo, na mente e na respiração; quais devem ser as diferentes atividades no corpo, na mente e na respiração… E, então, achamos que se trata apenas de atividade e as instruções são, normalmente, pertinentes ao corpo. Essa é a farsa.

Achamos que a atividade se refere apenas ao corpo, mas os asana-s são a trama do processo da atividade e do processo do pensamento.

Processo do pensamento

Quando você está plenamente atento e sensitivo nos asana-s, quando você aplica a atenção plena e a sensitividade, é impossível não ter um pensamento. Certamente haverá um pensamento quando você está plenamente atento e sensitivo. A sensitividade e a atenção plena desencadearão o processo do pensamento.

Agora, o processo do pensamento não é apenas ter um pensamento. Não é possível ter apenas um pensamento. O homem comum, leigo, não está atento a isso. Estamos atentos apenas aos nossos pensamentos; ficamos atentos aos nossos pensamentos durante nossas atividades existenciais.

Quando há um pensamento, invariavelmente há um pensador. E quando há um pensador e um pensamento, também existe um pensar. Portanto, temos que decifrar as dinâmicas de nossa consciência e as dinâmicas do funcionamento da nossa mente, pois a mente é pensante, a mente tem um pensamento, a mente está pensando e a mente é o pensador.

Assim, a mente estará girando nessas três esferas, pois a mente é ela mesma o pensador; você não pode dizer que ela é diferente do pensador. A própria mente se transforma no pensador. Onde está o pensar?

De novo, o pensar está também na mente. Onde está o pensamento? O pensamento está na mente. Devemos buscar compreender esses três perfis da nossa mente: como pensamento, como pensador, como pensar.

Portanto, no processo do pensamento, temos essas dinâmicas. Essas são as dinâmicas da mente. Para a “meditatividade” e meditação, é sempre perfeitamente correto seguir um processo, que é a meditação dinâmica.

Quando você é um iogue proficiente, você vai além, e, então, a realidade é outra. Agora, na esfera mundana, nas atividades cotidianas da vida, estamos familiarizados com outros tipos de pensamento. Nossos pensamentos estão relacionados ao mundo externo, aos seus aspectos e fenômenos materiais. É por isso que, muitas vezes, ao fazer uma pausa, nos indagamos: O que se passa em meus pensamentos? Sobre o que estou pensando? Então, talvez até sejamos capazes de avaliar e objetivar nossos pensamentos, mas não objetivamos o pensador. Não buscamos objetivar o pensador dentro de nós, nem buscamos objetivar o pensar dentro de nós.

Na esfera mundana, não é tão simples ter um pensamento sobre o pensamento como disse na última vez: pensamento sobre o pensamento, pensamento sobre o pensar e pensamento sobre o pensador. Mas, no yoga, nos é dado um campo maravilhoso para, distintamente, identificar e compreender essa interação. E, portanto, asana, pranayama são um campo maravilhoso para realizar esse tipo de estudo, onde haverá o pensamento sobre o pensamento, o pensamento sobre o pensador, o pensamento sobre o pensar; a inter-relação entre o pensamento sobre o pensamento, o pensamento sobre o pensar e o pensamento sobre o pensador. Ouça com atenção, do contrário, isso pode parecer um tanto confuso e desconcertante.

Em um estado de yoga, quando a consciência está bastante calma e serena, você pode identificar o pensamento sobre o pensamento; pode haver um pensamento sobre o pensamento; pode haver uma investigação sobre o pensamento.

O que é esse pensamento? De onde veio esse pensamento? Esse pensamento vale a pena? Vale a pena se envolver com esse pensamento? Ou devo me afastar desse pensamento?

Portanto, em um processo de yoga, o pensamento também estará sob escrutínio. E deve estar sob escrutínio, porque todos queremos ter um pensamento correto, um bom pensamento. Sempre que um mau pensamento ocorre, damos um passo atrás e nos afastamos desse pensamento, que não é um pensamento bom, adequado. Dessa forma, há o pensamento sobre o pensamento.

Similarmente, estabeleça o pensamento sobre o pensar, ou seja, investigue e examine o próprio pensar. O pensar está baseado na memória? O pensar está baseado na percepção? Cognição? Sensação? Experiência?

Há o pensamento sobre o pensar e há também o pensamento sobre o pensador. No estado ióguico, por estarmos mais estabelecidos em nossa entidade subjetiva, somos capazes de ter uma reflexão mais nítida sobre o pensador. Na esfera mundana, oscilamos entre diferentes humores, porque nos confrontamos com pessoas desejadas e indesejadas, pessoas aliadas e inimigas, pessoas que gostamos e desgostamos… por isso, há muitas oscilações no perfil do pensador.

A entidade subjetiva muda dependendo das condições, se você tem um aliado ou um inimigo à sua frente, [por exemplo]. Talvez um aliado esteja aí nesse momento, mas ele partirá. Quando ele partir, talvez surja um inimigo no momento seguinte. Portanto, temos oscilações que estão além do nosso controle e isso influencia nossa entidade subjetiva.

Agora, nos processos de yoga, não temos essas oscilações porque estamos voltados para dentro de nós mesmos. Além disso, por se tratar de uma condição mais bem estabelecida, o perfil do pensador como entidade subjetiva estaria mais estável, firme, sem oscilar e, assim, é possível ter um pensamento sobre o pensador.

Esse pensamento sobre pensamento, pensamento sobre pensador e pensamento sobre o pensar são os aspectos da dinâmica na meditação.

Há certos padrões subjetivos em que é possível ter um processo de pensamento meditativo. Certas esferas de pensamento não ensejam o processo de pensamento meditativo, não se qualificam para esse processo. Nem todo pensamento é meditativo… Existem alguns pensamentos que são meditativos.

Nos fundamentos preparatórios do yoga, nos falam sobre o satsanga [estar em companhia da verdade]. No satsanga, nos deparamos com muitos pensamentos dignos de meditação; pensamentos com potenciais meditativos; pensamentos que podem nos levar ao plano meditativo da mente. Haverá pensamentos meditativos se você estiver em satsanga [entre buscadores da verdade]. Mas na turbulência do dia-a-dia, se você estiver em rajo sanga e tamo sanga [sob a influência de rajas ou tamas], você não identificará pensamentos que tenham potenciais meditativos.

Temos que desenvolver nosso processo de pensamento em um ambiente que não fomenta isso, pois as pessoas comuns se preocupam somente com a vida e o viver.

O que é, afinal, a vida? Sob uma perspectiva, a vida é ter relacionamentos. Devemos nos relacionar com as coisas e as pessoas ao nosso redor. Se não nos relacionamos, isso não é vida. Há muitas definições do que é viver a vida. Uma delas é que você deve se relacionar com as coisas ao seu redor. Outras coisas devem se relacionar com você. As pessoas e as coisas ao seu redor devem se relacionar com você e você deve se relacionar com elas. A esse relacionamento, a esse ato e condição de relacionar-se, chamamos vida. Se isso não está presente, não consideramos que exista vida; que exista o viver.

Por exemplo, uma pessoa em estado de coma. Uma pessoa inconsciente está viva, mas não chamamos isso de viver, porque essa pessoa em estado de coma ou inconsciente não se relaciona com nada ao seu redor. Como ela não pode se relacionar com nada ao seu redor, não chamamos isso realmente de vida ou de viver. Ou o que chamamos de vida vegetativa, quando alguém está na condição de vida vegetativa… Isso não é vida, isso não é viver, não queremos esse tipo de vida. Não queremos apenas estar vivos.

Pensamento digno de “meditatividade”

Então, na esfera mundana, temos conteúdos de pensamento, mas nem todos os conteúdos de pensamento se qualificam para operar nas faculdades cerebrais ou mentais mais elevadas. Portanto, temos que desenvolver nossa associação com conteúdos que transcendam as condições mundanas e as condições materiais, ou, como se costuma dizer, com a filosofia.

Temas filosóficos têm muitos potenciais para processos meditativos. Eles têm potenciais meditativos. O conteúdo de pensamento tem que ser transpessoal, “transmundano”. Precisamos melhorar nossa associação com esses conteúdos para [poder] meditar.

Nos dias de hoje, a meditação tornou-se uma moda. Até os médicos estão aconselhando que as pessoas recorram à meditação. Eles dizem que todos devem fazer meditação de cinco a dez minutos todos os dias, que [meditar] é bom. Mas, como pode haver meditação, se não há associação com objetos meditativos, temas meditativos, conteúdos de pensamento meditativo?

Por essa razão, o satsanga é tão importante. Você terá muito material para meditar no satsanga; você obterá muito material para a “meditatividade” no sadhana sanga. E no shastra sanga, adhyatma shastra, moksha shastra, dharma shastra, yoga shastra, karma shastra… Em vários shastra-s, [você encontrará] uma infinidade de temas meditativos. Temos que aumentar nossa associação com esses assuntos para estarmos meditativos.

Vou dar um exemplo: alguém que está muito envolvido com dinheiro, finanças, glórias materiais, riqueza… Se você aconselha uma pessoa como essa a fazer meditação, como ele meditará sobre o assunto  que está assombrando sua mente, que tem ocupado a sua mente dinheiro, mais dinheiro, mais e mais dinheiro, riqueza, mais riqueza, mais e mais riqueza… adquirir riqueza, preservar riqueza, manter riqueza, aumentar riqueza…? Pessoas altamente materialistas não encontram conteúdo de pensamento [para meditar].

Portanto, como um estudante de yoga e se, hoje, as pessoas são incentivadas a fazer meditação, é importante melhorar o sistema de suporte ao pensamento meditativo. Se houver escassez de pensamento meditativo, sobre o que você irá meditar? Como você vai meditar? Como buscadores de yoga, temos que aumentar nosso acesso a conteúdos dignos de meditação; a pensamentos dignos de meditação. Só, então, poderemos praticar meditação. E, no yoga, você está aberto a isso.

O universo interior é bem “transmaterial” e nos oferece muito conteúdo sobre o qual podemos meditar.
Como o corpo, a mente e a respiração interagem entre si?
O que fazem um pelo outro? Como se tornam benfeitores e beneficiários um do outro?

Há um conteúdo enorme para se estudar e esse conteúdo terá muitos potenciais meditativos. Na fisiologia exotérica, não há potencial meditativo no funcionamento do rim, do fígado, do estômago… O que o fígado faz? Examine num livro de anatomia: não há nada sobre o que valha a pena meditar no fígado ou em como os rins funcionam. Mas, se formos além, entenderemos como nosso corpo é uma maravilha.

Busque compreender como o rim é um órgão maravilhoso. O homem comum não tem ideia de que existem milhões de filtros em um rim tão pequenino. O coração, o órgão coronário… a forma como ele funciona é uma maravilha. O homem comum não sabe disso, ele apenas diz que o coração bata e quer que o coração siga batendo; não tem o menor interesse em se questionar sobre o quão maravilhoso é o coração, quão incessantemente está funcionando. Sem nenhum descanso, o coração está sempre funcionando. Trabalha por décadas e décadas e décadas, sem feriados, sem domingos, sem folga. É uma maravilha como ele trabalha. O que ele faz, é uma maravilha. O quanto faz, é uma maravilha!

Assim, teremos que ir um pouco além dessa visão mecânica do corpo e buscar apreciar esse corpo como uma maravilha.

Ademais, buscamos entender como o fígado funciona para o resto do corpo, para os órgãos da mente; como o rim funciona para o resto do corpo, para os órgãos da mente. Quando eles trabalham reciprocamente, como uma família, o rim não é apenas um órgão nefrológico. Não cabe rotular o rim como um órgão nefrológico, o fígado como um órgão digestivo, porque o que eles fazem por dentro deles é incrível, inexplorado! Nenhum livro de anatomia lhe dirá o que eles fazem – mencionarão apenas as doenças psicossomáticas do fígado, estômago, rins, coração ou bexiga. Mas, internamente, eles funcionam de um modo totalmente diferente, como uma família.

A Anatomia não explica isso. Você terá que buscar na anatomia esotérica para compreender um pouco sobre isso. O yoga abre esse livro de anatomia esotérica e, então, você compreenderá como qualquer órgão é maravilhoso! Há muitos conteúdos sobre os quais você pode meditar, refletir…

Deve haver temas sobre os quais você possa refletir e se tornar pensativo, meditativo e reflexivo. Esses temas devem ser desenvolvidos, adquiridos, colecionados em nossa vida, em vez de meramente aconselhar que todos façam meditação de cinco a dez minutos todos os dias! É por isso que essa meditação dinâmica é tão importante para poder avançar a um tipo mais refinado de meditação, que ocorre no yoga clássico.

Isso é um pouco do que eu queria abordar sobre a “meditatividade”, “meditatividade dinâmica”, sobre a qual Guruji falou. Seu yoga tinha “meditatividade dinâmica”. Enquanto nós, como eu disse nas últimas sessões, estamos todos envolvidos na atividade dos asana-s. Fiz isso? Fiz aquilo? Fiz tudo o que era para ser feito? Apenas queremos estar em atividade do corpo, enquanto que para Guruji, cada asana se transformava num espelho. O espelho refletindo o pensamento, o espelho refletindo o pensar, o espelho refletindo o pensador. Como um ferreiro em sua bigorna, Guruji moldava, entalhava, esculpia, apurava e abrandava cada asana. Isso é o que tem que acontecer no yoga essencial.

Enquanto o yoga de Guruji era um processo meditativo dinâmico, nós estamos apenas buscando aperfeiçoar nosso Sirsasana. Queremos fazer um Sirsasana certo, um Sirsasana correto, um Sirsasana perfeito, um Sirsasana preciso. Como postura, buscamos fazê-lo. Lutamos, nos esforçamos, genuinamente, para que nossa postura fique boa, correta, perfeita, precisa.

Não fazemos ideia do que a postura faz sobre a nossa entidade subjetiva, sobre as nossas entidades instrumentais, nossa mente, consciência, psique. Não tomamos conhecimento disso. No entanto, [quando você está] em um yogasana, o asana faz muito mais em você do que você [acredita estar fazendo] nele. Quando o asana faz muito em você, o que é esse você? Você como pensador, você como pensar, você como um locus de pensamento. Isso é svadhyaya.

No yoga de Guruji havia essa meditação dinâmica. Precisamos aprender como transformar o nosso processo de forma semelhante, transformá-lo em uma meditação dinâmica, onde não estamos apenas buscando aperfeiçoar a postura, mas entalhá-la, esculpi-la e ir além… Iremos além disso em um yogasana. É por isso que venho insistindo que posturas e asana-s são diferentes.

Aproveito para engatar, com isso, a minha próxima sessão: como asana-s tornam-se yoga? As posturas não são yoga, as posturas precisam se tornar asana para que o asana possa se tornar yoga. Venho dizendo constantemente que as posturas não são yoga e que as posturas não são asana-s. Como existe yoga ou como pode haver yoga no que fazemos como yogasana-s? Como está o yog nos yogasana-s? Como esse yog não está presente nas posturas? Veremos isso na próxima sessão.

Agradeço sua paciência e espero que você consiga ter algum processo de pensamento concreto, a partir do que lhes relatei sobre educação em yoga. Muito obrigado!

 

Gostaria de ver a próxima sessão?

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