SÉRIE: Educação em Yoga Online – Sessão 8

SÉRIE: EDUCAÇÃO EM YOGA on-line
por
Shri. Prashant Iyengar
Oitava sessão, gravada em 02 de maio de 2020
Ramamani Iyengar Memorial Yoga Institute
Transcrição livre, traduzida por Bruna Paez, revisada por Katia Dacosta, ABIY.

Namaskar a todos vocês para essa nova sessão de educação em yoga, através do yoga, pelo yoga, sobre o yoga. Essa educação é tão fundamental na abordagem clássica do yoga, diferente da abordagem moderna do yoga, que, aliás, é bastante consumista.

Nas últimas sessões, delineamos mais sobre a teoria e os aspectos filosóficos do yoga. Hoje vamos abordar seus aspectos práticos, então, prepare-se para fazer, entrar em algum asana para começarmos.

Como o yoga vem na postura? Como uma postura se torna um ​yogasana​?

Tenho enfatizado como as posturas não são yoga. Hoje gostaria de ressaltar como o que fazemos pode se tornar yoga; como o yoga vem em nossas posturas para que elas se tornem yogasana-s.

Em vez de irmos para uma análise negativa sobre o que não é yoga, por que algo não é yoga, por que posturas não são asana-s, por que postura não é yoga; vamos buscar uma abordagem positiva para entender como, onde e quando o yoga vem, mesmo nessas posturas. As próprias posturas se tornam yogasana-s. E, neste ponto, quero que você tenha clareza sobre a confusão [que existe] entre asana-s e posturas.

Posturas são requisitos importantes para asana-s, porém não são em si asana-s. Vamos observar como os asana-s vêm e de que forma o yoga se evidencia, para você e para mim, neófitos, em que o yoga não é realmente perceptível, provavelmente não seja nem mesmo rastreável. Talvez nem haja vestígios de yoga no que fazemos… vamos ver como o yoga vem.

Entre em uma postura. Sugiro Salamba Sirsasana. Alternativamente, você pode optar por Utthita Hasta Padasana [ou, melhor dizendo] Utthita Hasta Padangusthasana, ou simplesmente Bharadvajasana sentado. Ofereço essas opções porque talvez alguns de vocês não consigam ficar em Sirsasana para efeito de estudo. Estabeleça-se na sua postura e mude de lado por conta própria. Em Sirsasana, permaneça reto por algum tempo e depois você pode ir para as variações.

No momento em que entramos na postura, nos tornamos atentos à postura, conscientes da postura, nos tornamos ativos na postura, e buscamos nos posicionar na postura de forma apropriada. Busque estar corporalmente consciente, ativo, sensitivo e móbil. É assim que começamos nossas posturas. Eu chamo isso de “estar numa posição”.

Você está em uma posição, através de uma postura ou posição postural.
Agora, de que maneira o yoga vem aqui?

A doutrinação é apenas fazer a postura, na qual você está musculosqueletalmente atento, realiza certas biomecânicas, ativa o seu corpo, a matéria corporal – músculos, articulações, ossos, pele, tecidos. Buscamos ativar toda a matéria corporal, colocando-a na posição correta e seguimos corrigindo-a, melhorando-a, desenvolvendo-a e ajustando-a… Alcance uma postura exequível, o que levará algum tempo.

Conecte cada parte do corpo com todas as outras partes do corpo

Agora, como o yoga começa aqui? Para nós, do nível principiante, ao conectar membros e tronco. Conecte os membros ao tronco, a parte inferior do corpo à parte superior do corpo; o corpo posterior ao corpo anterior; a superfície do corpo ao corpo físico interno. Estabeleça essas conectividades. Conecte uma parte do corpo com outras partes do corpo, cada parte do corpo com todas as outras partes do corpo. Conecte-se.

Essa conectividade e o conectar-se é também uma das conotações do yoga. Existem várias conotações para o termo “yoga”. Há muitas conotações compatíveis e adequadas. Em diferentes hierarquias, as conotações mudarão. Na nossa hierarquia, vamos criar a conexão entre os membros e o tronco, entre as costas e a frente, entre a matéria interna e externa do corpo físico, entre os lados e a frente e entre os lados e as costas. Vamos criar conexões.

Crie uma rede de conexão entre corpo, mente, respiração, sentidos e órgãos

E, então, vamos criar a conexão entre a respiração e o corpo. A respiração e o respirar com a matéria do corpo, com as partes do corpo, aspectos do corpo, facetas do corpo, fatores do corpo. Vamos criar a conexão entre a consciência da mente e o corpo. Corpo, mente e respiração se aproximam e se conectam e buscamos criar uma rede de conexão entre corpo, mente, respiração; corpo, mente, respiração, sentidos; corpo, mente, respiração, sentidos, órgãos.

Então, primeiramente, vamos melhorar e aumentar mais e mais a conexão entre corpo, mente e respiração. Quando mutuamente conectados, corpo, mente e respiração têm uma cultura de trabalho diferente; uma cultura de atividade diferente. Esse é o aspecto da literacia, esse é o aspecto da educação, de se educar.

O que a respiração faz agora na sua posição?

Deixe-me lembrá-los de mudar o lado sempre que precisarem.

Busque incorporar o que estou procurando dizer e perceba como a teoria se encaixa nas práticas de yoga. Como o corpo funciona quando se associa ao resto do corpo – uma parte do corpo associada a outras partes do corpo?

Em condições de conectividade, até mesmo nós trabalhamos de modo diferente. Trabalhamos de modo diferente e nos manifestamos de modo diferente em diferentes conectividades. Qualquer parte do corpo também funcionará de modo diferente ao se conectar com outras partes do corpo, ao se associar com outras partes do corpo, em condições relacionadas a outras partes do corpo.

Da mesma forma, a respiração. A respiração funcionará de modo diferente, mais do que apenas atuar como um processo respiratório. É mais uma força ativa no interior. A respiração é um órgão interno conativo, cognitivo, sensitivo, perceptivo. Portanto, a respiração contribuirá desde a atividade motora até a atividade ideomotora.

A mente também contribuirá de maneira similar. Em condições associadas à respiração e ao corpo, busque compreender como a mente funciona. Na condição temporal, condição empírica, podemos imaginar o que a mente faz: a mente pensa, a mente percebe, sente, imagina, recorda. A mente desempenha muitas funções – percepção, cognição, sensação, memória, lembrança, imaginação; a mente pode ir para o passado e pode ir para o futuro… Podemos entender como a mente funciona no plano temporal, no mundo empírico. Agora, como a mente funciona quando associada ao corpo?

Todo o corpo, mente, respiração, sentidos etc. se tornarão mutuamente compatíveis, mutuamente benfeitores e mutuamente beneficiários. Esse é o aspecto da literacia e da educação.

Como cada um deles está funcionando como um benfeitor?
Como cada um está trabalhando como um beneficiário?
Quais as concessões mútuas entre corpo, mente e respiração?

Asana: um lugar de interação

No caso da postura, nós simplesmente fazemos a postura. A postura precisa ser feita, mas note: há interação, eles interagem, se consideram mutuamente. Quando você é gentil com uma pessoa, há um tipo de processo de pensamento que não existiria caso não houvesse essa consideração.

Quando corpo, mente e respiração são mutuamente considerados, como eles funcionam?
O que eles fazem?

Esse é um aspecto da educação. Temos que ser educados no âmbito da nossa própria personificação. O yoga aqui vem para nós na forma de conexão, de se relacionar mutuamente, ativar e ser mutuamente ativado. Há dispensações e recepções, dar e receber, não apenas o fazer.

Nas posturas há simplesmente o fazer: Você fez aqui? Você fez lá? Você fez isso? Você fez aquilo? Tudo se limita a fazer, fazer e fazer… ao passo que, agora, nos asana-s, você encontrará essa condição na qual eles trabalham um para o outro, um pelo outro, mutuamente. Eles interagem. Existe interação.

Quando se relacionam um com o outro, o relacionamento é concretizado, incentivado. [Na lição 2] eu disse que somos bastante atrozes: queremos que todos se relacionem conosco, mas não queremos que se relacionem entre si – o que é uma atrocidade. Agora, observe como caminhamos para a fraternidade. As afiliações são estabelecidas e, por conseguinte, começam a trabalhar uma para a outra. Isso também é uma conotação de yoga.

Quando corpo, mente e respiração trabalham um para o outro, quando nossas coisas estão funcionando para nossas coisas, isso também é uma conotação de yoga. Quando você trabalha para suas coisas e suas coisas trabalham para você, quando você trabalha para coisas em você, coisas em você trabalham para você; coisas em você trabalham para os seus. Esse tipo de condição associada, afiliada, também é uma conotação de yoga, na nossa hierarquia.

Lembrando mais uma vez que você deve fazer as trocas de lado por sua própria conta.

Nos asana-s, não devemos apenas fazer. Devemos, supostamente, permanecer, manter. Eu lhe falei sobre todo o caminho: fazer, permanecer, manter; eficácia, acesso, penetração, liberdade, intensidade de liberdade, estabilidade… Essas são negociações.

Agora, com essa lista de pontos e requisitos, que você não deveria apenas fazer, mas também permanecer no que você está fazendo. Você deve manter, desenvolver eficácia, intensidade, acesso, liberdade e uma condição estável. Prossiga com tudo isso por conta própria.

Asana:​ um lugar de estudo

Agora quero que você tenha um paradigma espinhal, paradigma das costas. Como se as costas fossem geradoras das atividades do corpo, precisamente, das atividades corporais associadas, atividades mentais associadas, atividades respiratórias associadas. A coluna deve ser a vigia a partir da qual você fará as suas observações.

Agora, decifre o processo. Diferentemente de apenas fazer – fazer, corrigir, aperfeiçoar, concretizar… Você não apenas faz, mas observa. Há muito o que observar quando corpo, mente, respiração e sentidos interagem. Então, a coluna vertebral se torna um observatório para observar as interações entre corpo, mente e respiração. Assim, no asana, criamos um observatório.

Em seguida, criamos um laboratório. Os asana-s não são feitos meramente através de prescrições técnicas. Nos deparamos com o fato de que temos que personalizá-los, concebê-los a cada dia, todos os dias, todas as vezes. Tem que haver uma experimentação para que também haja um laboratório espinhal para o asana.

Então há o observatório espinhal para o asana, o laboratório espinhal para o asana e, depois, a academia espinhal para o aprendizado.

Nos processos do asana, como disse, existem dois canais: (1) fazer, permanecer, manter, intensidade, acesso, eficácia, liberdade, estabilidade. Há outro caminho que precisamos treinar: (2) fazer, aprender, estudar, entender, compreender.

Sem isso, você não estará experimentando. Mesmo nos processos de observação, você não observa, simplesmente. As observações lhe dão algumas percepções e, com isso, você aprende e há escopo para estudar.

Neste outro canal do asana, a negociação do asana é fazer, aprender, estudar. Há um observatório, uma academia e um laboratório para facilitar o processo. Há, então, processos laboratoriais, processos observatórios e processos acadêmicos, mais do que um conjunto específico de técnicas posturais existentes.

Identifique o material educativo que você tem a partir da vigia espinhal, em sua posição, em seu asana. Então, os processos do corpo devem ser gerados pela coluna, desde a coluna, através da coluna, na coluna, com a coluna – ambos coluna e costas.

O processo de respiração também tem início nas costas e na coluna. Observe o quanto as costas e a coluna são um órgão respiratório; o quanto condicionam sua respiração e o respirar. Os processos mentais – sensação, percepção, cognição, pensamento – também são gerados pela coluna.

Há o processo de pensamento originado na coluna, o processo respiratório originado na coluna e os processos físicos, corporais originados na coluna. Observe de que maneira isso acontece.

Asana:​ uma trama entre a atividade e o pensamento

Identifique o entrelaçamento entre a atividade e o pensamento. Você está simplesmente ativando uma atividade interna no seu asana? Não. Você terá, invariavelmente, um estado mental, em função da sua atentividade, sensitividade e observações. Esse estado mental, como disse na última lição, contém, invariavelmente, algum pensamento subjacente.

Não é possível ter um estado mental sem um padrão de pensamento, sem um conteúdo de pensamento. É impossível estar sem pensamentos tanto num bom estado mental quanto num estado mental negativo. Seja num estado negativo, positivo, desejável, indesejável, clemente, inclemente, o pensamento está sempre presente. Há um pensamento. Há um processo de pensamento.

Busque entender o processo de pensamento que está acontecendo. Assim, você não estará meramente em uma postura, estará estruturando sua mente, o modelo mental, a consciência. O estado mental estará sendo estruturado.

Identifique o processo de pensamento ao passar pelas diferentes fases dos asana-s, no canal do fazer, permanecer, manter etc. e no segundo canal, do aprender, estudar, compreender, entender, analisar, sintetizar.

Então, entenda: [o asana] é um entrelaçamento do processo da atividade e do processo do pensamento. Busque estar consciente do processo da atividade e do processo do pensamento, da trama entre o fio da atividade e o fio do pensamento. Nos tecidos, há sempre uma trama de fios horizontais e verticais. A atividade e o pensamento são esses dois fios que tecerão a posição, a condição, o estado, o calibre do asana.

O processo de atividade isolado não o graduará na postura. A estrutura do pensamento é importante e, até mesmo, mais importante para que você possa se graduar no asana. Isso está implícito em um asana. Não se trata apenas de uma atividade aprimorada, corrigida, ajustada, monitorada, sob escrutínio, mas também de um processo do pensamento.

Agora, enquanto você faz “vertebralmente” ou “costalmente” a sua postura, entenda como a mente participa, como a mente recebe, como a mente dispensa. Qual é a atividade da mente? Qual é o perfil da mente? Qual é a função da mente? A mente está trabalhando internamente para outros aspectos – não apenas para o corpo, mas para a respiração e o respirar, para todas as suas funções mentais.

A coluna vertebral ou as costas, sendo o locus ou o berço de onde brota a atentividade, a consciência, o fluxo da consciência, também irá abordar a mente. Descubra como o processo do pensamento é diferente quando se trata de uma abordagem do corpo. Como é o processo do pensamento quando a abordagem se dá na respiração? Como é o processo de pensamento quando a abordagem se dá na mente? Entenda que toda essa atividade também mudará.

Essas são as nuances dos asana-s. Deve haver abordagem do corpo, abordagem da respiração, abordagem da mente. Então, você deveria, supostamente, agregar isso: abordar o corpo, abordar a respiração, abordar a mente e entender como a atividade muda e como o processo do pensamento muda.

Asana e​ “meditatividade”

Nas últimas sessões discutimos sobre “meditatividade”. Observe, no campo do pensamento, o potencial para meditar. Não é abrindo qualquer livro que você encontrará potencial meditativo. Existem alguns livros, alguns assuntos onde existe potencial para a “meditatividade”. Você não pode identificar um potencial meditativo lendo uma matéria de jornal. No entanto, haverá muito potencial meditativo em livros como o Evangelho de Rama Krishna, a vida de um sábio, a vida de um santo, livros sobre Adhyatma, sobre filosofia…

Por isso, eu disse [na lição 7] que o pensamento deve ser adequado para que você esteja meditativo. Não é qualquer pensamento que te permitirá suscitar a “meditatividade”. Descubra quanto potencial existe para a “meditatividade”, pois o seu processo de pensamento pode acabar em pensividade, reflexividade e “meditatividade”.

Uma interrupção: se quiser mudar a postura, mude. Se tiver terminado Sirsasana, pode ir para Bharadvajasana ou para Utthita Hasta ou trocar de posição para novas explorações, mas mantenha o paradigma da coluna vertebral, o paradigma das costas.

Descubra como você pode refinar a estrutura do seu pensamento; a estrutura da sua atividade. A atividade refinada e o pensamento refinado definitivamente o levarão a um estado meditativo e isso terá potencial para a “meditatividade”, potencial meditativo. Seus asana-s lhe darão uma infinidade de potenciais.

Como disse [na sessão 5], há três aspectos: o pensador, o pensamento, o pensar. Busque captar o pensamento por trás do seu estado mental. Nos asana-s geralmente queremos um estado mental calmo, sereno, sublime, nobre, um estado de felicidade inabalável. Logo, devemos ir para um estado mental positivo, e não um estado mental negativo. Queremos melhorar o estado mental. Como é a estrutura do pensamento quando melhoramos o estado da mente?

Procure destacar o processo do pensamento à medida que você busca estados refinados da atividade e do pensamento. Identifique o conteúdo do pensamento. Observe como o conteúdo do pensamento mudará ao abordar o corpo, ao abordar a respiração e ao abordar a mente. Busque entender como o conteúdo do pensamento irá mudar.

Tenha um pensamento sobre o pensamento. Essa proposição que mencionei pode ser muito útil agora. Tenha um pensamento sobre o pensamento, em vez de apenas buscar um estado mental no yoga. Isso é consumismo: você quer fazer yoga e se sentir calmo, sereno, sublime, sedado, reflexivo, um pouco transcendente, no sétimo céu… Isso é consumismo.

Busque entender o pensamento subjacente e a estrutura do pensamento para os estados sublimes. Não sejamos consumistas. Vamos ver como o pensamento se estrutura para a sublimação. Qual é a matéria-prima do pensamento, subjacente ao pensamento, sobre o qual essa estrutura é erigida? Então, você terá um pensamento sobre o pensamento: o pensamento estará sob escrutínio,  o pensamento estará sob avaliação e, com isso, você poderá melhorar o processo do pensamento.

Em seguida, você também pode considerar o pensador. Estamos sempre pensando. Temos um pensamento. Não é possível dizer que não existe o pensar quando há pensamento. Quando há um pensamento, há um pensador. Quando há um pensar, há um pensamento. Essas são três dimensões de um conceito. Não vá pelo significado literal do pensamento ou do pensar. Essas são palavras tridimensionais. Você não pode ter um pensamento sem pensar, você não pode pensar sem ter um pensamento, você não pode ser um pensador sem um pensar e sem um pensamento. São três dimensões: pensador, pensar e pensamento.

Asana-s oferecem condições maravilhosas para que haja clareza em relação a essas três dimensões, para estudá-las e identificá-las e, depois, estudar o que é o pensamento, o que é o pensar e o que é o pensador.

Portanto, haverá a possibilidade e a probabilidade de você ter um pensamento sobre o pensamento; um pensamento sobre o pensar; um pensamento sobre o pensador. Isso é importante no processo meditativo. Observe o enorme potencial de “meditatividade” em um asana.

Asana e​ o​ desenvolvimento de qualidades nobres

Eu falei sobre “meditatividade” em uma sessão anterior e também sobre yama-s e niyama-s. Observe sua cultura de pensamento, seu processo de pensamento, sua mente, psique, consciência… Qual o perfil deles?

Como eu disse outro dia, não cometer himsa não significa estar em ahimsa. Não estar na mentira não significa estar na verdade. Para estar na verdade, você deve estar na verdade. Para estar em ahimsa, você deve estar em ahimsa. Você não pode dizer: “Estou em ahimsa porque não estou em himsa”. Para estar em asteya, você deve estar em asteya. Você não pode dizer: “Não estou em steya, logo, posso deduzir que estou em asteya”; “Não estou em abrahmacharya, logo, estou em brahmacharya. Não! Esses são todos estados “não negativos”.

Agora, veja: não há dúvida de que você não está em himsa, não está cometendo nenhuma atividade da natureza de himsa, nem há pensamento da natureza de himsa, mas isso não é tudo, você deve ir além. Você incentiva o apratipaksha [o oposto] de himsa.

Himsa [asatya, steya, abrahmacharya, parigraha] são manifestações de shadripu-s [os seis inimigos: luxúria, raiva, avidez, orgulho, apego e inveja]. Ahimsa [e os outros yama-s] são manifestações de shat sampatti [as seis virtudes].

Então, o que predomina em sua mente? Atividade do corpo, mente, respiração não é ausência de himsa, ausência de asatya, ausência de asteya, ausência de abrahmacharya, ausência de parigraha, mas a presença de seus antagonistas: shat sampatti. Há o nobre material que surge na consciência: sama [serenidade, equanimidade], dama [controle dos sentidos], titiksha [tolerância], uparati [saciedade; libertar-se da influência dos objetos externos], jñana [conhecimento da realidade, de Brahma], vairagya [desapego], shanti [paz], samadhan [contemplação].

Isso está implícito para [estabelecer-se em] ahimsa, satya, asteya, brahmacharya, aparigraha, saucha, santosha, tapas, svadhyaya, Isvara pranidhana. O fundamental não é apenas evitar himsa, asatya etc., mas encorajar e colher os resultados de sama, dama, titiksha, uparatti, jñana, vairagya, shanti, samadhan. Ou, como referência ao capítulo 16 da Bhagavad Gita, “Daivi Sampada”, que fala sobre “daivasura sampad vibhaga yoga” [o yoga da discriminação entre a condição divina e a condição demoníaca]. Estude esse capítulo e entenda os potenciais demoníacos e os potenciais divinos.

Nos asana-s, você desenvolve potenciais virtuosos, divinos. Uma pessoa virtuosa não abstém meramente de himsa, asatya etc., mas está estabelecida nos seus opostos, que obtém por meio do satsanga, shastra sanga, sadhana sanga, sattvic ahara vihara achara vichara [estar entre buscadores da verdade; estudar os textos sagrados; praticar; ter uma dieta, estilo de vida e pensamentos harmoniosos]. shat sampatti, sama, dama, titiksha, uparatti, jñana, vairagya, shanti, samadhan.

Observe como esses aspectos são produzidos pelos seus asana-s. Mesmo asana-s simples, como Sirsasana, Bharadvajasana, ou Utthita Hasta, considerados como posturas físicas, são geradores de qualidades nobres. Esse é o aspecto do Samudra Manthan [processo de trazer o néctar da imortalidade à superfície narrado no Bhagavata Purana, Mahabharata e no Vishnu Purana] [espelhado] no microcosmo através do yoga.

Todas as qualidades nobres vêm à tona e quando estas qualidades emergem, não há chance de ir para himsa, asatya, steya, abrahmacharya, parigraha. Você não apenas se afastará disso, mas estará comprometido com os seus oponentes: dharma. Seus oponentes são dharma tattva [os princípios do dharma] e, então, você estará estabelecido em dharma tattva.

Observe como os yama-s, o próprio material de yama está sendo produzido. Queremos viver em yama, mas não buscamos produzir material de yama. Veja, nos asana-s, como você pode produzir material de yama. Isso é uma mente iogue. Leia o livro de Guruji, “Yogic Mind”, para entender como a mente iogue pode ser produzida a partir do que você está fazendo.

Resumo

Busquei trazer a teoria discutida nas últimas sessões em seus aspectos práticos, para você entender como as posturas se tornam asana-s, como os asana-s contêm yoga e como o yoga vem nos asana-s. Por esse motivo, se chamam yogasana-s.

Hoje busquei combinar os preceitos teóricos e sua praticalidade para você poder interpretar as ideias sobre meditação, “meditatividade”, princípios ético-religiosos, princípios do achar dharma, princípios do aachar niti dharma; para entendê-los e ver de que forma podemos gerá-los através dos asana-s, yogasana-s, pranayama ou através de qualquer coisa que fazemos.

Perceba a “meditatividade dinâmica”, a meditação dinâmica adotada, onde você considera o pensador e o pensar, não apenas o pensamento. Em vez de rodear o pensamento e dizer que estamos pensando, temos que ter um pensamento sobre o pensar e ter um pensamento sobre o pensador – e esse é o principal componente da “meditatividade”.

Isso é suficiente por hoje. Muito obrigado pela sua paciência. Espero que esta também seja uma sessão proveitosa. Namaskar! Muito obrigado!

 

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